O Banco Nacional de Angola (BNA) confirmou que o dinheiro encontrado na posse de um oficial das Forças Armadas Angolanas, e que pertencia à Casa de Segurança do Presidente João Lourenço, saiu de um banco comercial, sem revelar a identidade do banco. Por outras palavras, o BNA revelou que o país é uma espécie de casa da mãe-joana onde vale (quase) tudo.
O escândalo multimilionário envolvendo valores em dólares e em euros voltou a abalar os angolanos (20 milhões dos quais passam fome às segundas, quartas e sextas, às terças, quintas e sábados nada têm para comer e ao domingo perguntam a Deus que mal Lhe fizeram), tendo como epicentro a Casa de Segurança da Presidência da República que integra a vasta lista de instituições do Estado que estão sob investigação de corrupção.
O envolvimento de altas patentes militares em casos de corrupção e em crimes de peculato (roubo) já era de domínio público, mas nunca foram admitidos pelo Ministério Público (desde sempre uma passiva sucursal do MPLA) que sempre alegou falta de provas para sustentar as várias denúncias. Aliás, mesmo agora a Procuradoria-Geral da República tem de ter todo o cuidado por que os ladrões generais podem alegar, citando João Lourenço, “que viram roubar, participaram no roubo, beneficiaram do roubo mas que não são… ladrões”.
A detenção na semana passada de um major responsável das finanças da banda musical da Presidência da República (major Paulo Lussaty), encontrado na posse de malas com dez milhões de dólares e quatro milhões de euros, foi a ponta do iceberg que apressou a PGR (depois de superiormente autorizada) a divulgar um comunicado e a Presidência da República, a reboque, produzir um despacho de exoneração de seis oficiais generais.
A PGR confirmou também o envolvimento de oficiais das Forças Armadas Angolanas afectos à Casa de Segurança do Presidente da República, por suspeita de crimes de peculato, retenção de moeda, associação criminosa e a apreensão de valores monetários em dinheiro sonante, guardados em caixas e malas, na ordem de milhões, em dólares, em euros e em kwanzas, bem como residências de luxo, viaturas topo de gama e outros objectos de elevado valor.
O Ministério Público informou que a prática dos factos que estiveram na base da abertura do aludido processo remonta há muitos anos (o MPLA está no Poder há 45 anos), sem detalhar quantos, e prossegue a sua tramitação, encontrando-se para o efeito, em fase de instrução preparatória.
Com mais este escândalo milionário, várias vozes são consensuais em afirmar que “são nojentas as fragilidades do sistema financeiro do país, que continua exposto, sem poder detectar os vários assaltos ao erário público”.
O Presidente João Lourenço, “vestindo” sem grande assertividade a indumentária de ser o último a saber, substituiu seis oficiais generais na Casa de Segurança da Presidência da República, mantendo impávido e sereno o Ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, general Pedro Sebastião.
A suposta limpeza de João Lourenço (se fosse mesmo uma limpeza seria de cima para baixo) surgiu dias depois do major Paulo Lussaty, oficial da FAA em serviço na Presidência e chefe das finanças da banda musical, ter sido detido no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro quando tentava viajar para o estrangeiro com 10 milhões de dólares e quatro milhões de euros.
Em nota, a Casa Civil da Presidência da República informou que “depois de ouvido o Conselho de Segurança Nacional”, João Lourenço exonerou os tenentes-generais Ernesto Guerra Pires, do cargo de consultor do ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, Angelino Domingos Vieira, do cargo de secretário para o Pessoal e Quadros.
Ainda na mesma nota informa-se que José Manuel Felipe Fernandes foi exonerado do cargo de secretário-geral da Casa de Segurança do Presidente da República; João Francisco Cristóvão, do cargo de director de Gabinete do Ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, Paulo Maria Bravo da Costa, do cargo de secretário para Logística e Infra-Estruturas da Casa de Segurança do Presidente da República, e o brigadeiro José Barroso Nicolau, do cargo de assistente principal da Secretaria para os Assuntos dos Órgãos de Inteligência e Segurança de Estado.
Pedro Lussaty era um leal servidor das FAA que, certamente formado e formatado pelo MPLA, “apenas” era dono (provisório) ou fiel depositário, de 45 imóveis, dos quais uma penthouse em Talatona, cinco apartamentos em Lisboa, um apartamento na Namíbia; dois iates de luxo, dezanove malas abarrotadas de dólares, euros e kwanzas, duas dezenas de relógios de luxo revestidos de diamantes e ouro rosa e quinze viaturas topo de gama e comprovativos de avultadas e ilegais transferência bancárias para fora do país.
Jonas Savimbi dizia aos seus seguidores: “Vocês estão a dormir e o MPLA está a enganar-vos”. Será que João Lourenço esteve (e continua a estar) a dormir e, por isso, o MPLA o enganou? Ou, pelo contrário, este é mais um caso de, citando João Lourenço, alguém que “viu roubar, participou no roubo, beneficiou do roubo mas não é ladrão”?
É que o património roubado pelo major Pedro Lussaty não foi conseguido em meia dúzia de dias, nem poderia ter sido constituído sem a cobertura de muitos altos dirigentes do partido e não apenas de meia dúzia de oficiais superiores das FAA. Também neste escândalo da Casa de Segurança da Presidência, o exemplo deve partir de cima.
O que terá a dizer sobre isto o general Pedro Sebastião, Ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República? Das três, uma. Ou se demite, ou é demitido ou o próprio Presidente se demite.
Ao ser detido no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, em Luanda, o também chefe das Finanças da banda musical da Presidência da República, não conseguiu justificar a origem do dinheiro.
O ministro da Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República é o principal inspirador, ou guru, de João Lourenço, ou não tivesse uma (de)mente brilhante. Recordam-se que Pedro Sebastião afirmou no dia 6 de Fevereiro de 2018 que as Forças Armadas deviam ser auto-suficientes e contribuir, em tempo de paz, para o desenvolvimento económico e social da nação? Terá sido isso que fez Pedro Lussaty e os seus camaradas da Casa de Segurança?
Folha 8 com VoA